sábado, 28 de julho de 2007

"Ponto de vista

Stephen Kanitz

Revolucione a sala de aula

"Na vida você terá de ser aprovado pelos colegas e futuros companheiros de trabalho, não pelos seus antigos professores"


Ilustração Ale Setti

Qual a profissão mais importante para o futuro de uma nação? O engenheiro, o advogado, o administrador? Vou decepcionar, infelizmente, os educadores, que seriam seguramente a profissão mais votada pela maior parte dos leitores. Na minha opinião, a profissão mais importante para definir uma nação é o arquiteto. Mais especificamente o arquiteto de salas de aula.

Na minha vida de estudante freqüentei vários tipos de sala de aula. A grande maioria seguia o padrão usual de um monte de cadeiras voltadas para um quadro-negro e uma mesa de professor bem imponente, em cima de um tablado. As aulas eram centradas no professor, o "locus" arquitetônico da sala, e nunca no aluno.

Raramente abrimos a boca para emitir nossa opinião, e a maior parte dos alunos ouve o resumo de algum livro, sem um décimo da emoção e dos argumentos do autor original, obviamente com inúmeras honrosas exceções.

Nossos alunos, na maioria, estão desmotivados, cheios das aulas. É só lhes perguntar, de vez em quando. Alguns professores adoram ser o centro das atenções, mas muitos estão infelizes com sua posição de ator obrigado a entreter por cinqüenta minutos um bando de desatentos.

Não é por coincidência que somos uma nação facilmente controlada por políticos mentirosos e intelectuais espertos. Nossos arquitetos valorizam a autoridade, não o indivíduo. Nossas salas de aula geram alunos intelectualmente passivos, e não líderes; puxa-sacos, e não colaboradores. Elas incentivam a ouvir e obedecer, a decorar, e jamais a ser criativo.

A primeira vez que percebi isso foi quando estudei administração de empresas no exterior. A sala de aula, para minha surpresa, era construída como anfiteatro, onde os alunos ficavam num plano acima do professor, não abaixo. Eram construídas em forma de ferradura ou semicírculo, de tal sorte que cada aluno conseguia olhar para os demais. O objetivo não era a transmissão de conhecimento por parte do professor, esta é a função dos livros, não das aulas.

As aulas eram para exercitar nossa capacidade de raciocínio, de convencer nossos colegas, de forma clara e concisa, sem "encher lingüiça", indo direto ao ponto. Aprendíamos a ser objetivos, a mostrar liderança, a resolver conflitos de opinião, a chegar a um comum acordo e obter ação construtiva. Tínhamos de convencer os outros da viabilidade de nossas soluções para os problemas administrativos apresentados no dia anterior. No Brasil só se fica na teoria.

No Brasil, nem sequer olhamos no rosto de nossos colegas, e quando alguém vira o pescoço para o lado é chamado à atenção. O importante no Brasil é anotar as pérolas de sabedoria.
Talvez seja por isso que tão poucos brasileiros escrevem e expõem suas idéias. Todas as nossas reclamações são dirigidas ao governo – leia-se professor – e nunca olhamos para o lado para trocar idéias e, quem sabe, resolver os problemas sozinhos.

Se você ainda é um aluno, faça uma pequena revolução na próxima aula. Coloque as cadeiras em semicírculo. Identifique um problema de sua comunidade, da favela ao lado, da própria faculdade ou escola, e tente encontrar uma solução. Comece a treinar sua habilidade de criar consenso e liderança. Se o professor quiser colaborar, melhor ainda. Lembre-se de que na vida você terá de ser aprovado pelos seus colegas e futuros companheiros de trabalho, não pelos seus antigos professores.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)"
Fonte: Revista Veja nº 1671, de 18/10/2000

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

O Projeto Pedagógico da instituição é muito inovador, e com idéias ligadas ao texto, fica mais claro ainda que aulas mais participativas, em que o professor é um mediador do conhecimento, e não um detentor do mesmo, eu na condição de aluna posso afirmar que as aulas se tornam mais prazerosas e predem mais a atenção, o que proporcina uma maior assimilação dos conteúdos.

Professor Lourival Alves disse...

Observando o artigo, percebo que a visão do Professor Stephen Kanitz, está voltada para uma realidade, vivida e observada pelo mesmo de forma muito individualista, porém é a opinião do mesmo, assim, também em algum momento ele deve ter sua razão, mas, embora concorde com ele em alguns pontos, na qualidade de educador que também sou, não poderia me omitir em emitir meu ponto de vista. Senão vejamos:

Acredito que nunca devemos generalizar observações, pois somos capazes de discernir a diferença que ele faz entre o educador e o arquiteto, afinal somos formadores de opinião. Se nos depararmos com uma realidade que foge do padrão por nós idealizada, acabamos nos deparando com um paradigma terrível, pois os paradigmas destroem status quol e para que estava acostumado a fazer algo que sempre deu certo, a mudança causa impacto que só vai ser percebido após o resultado.

Claro que existe uma infinidade de tipos de “professores” como também de “alunos” tanto é que se observarmos melhor veremos algumas caricaturas que marcam a postura do professor em sala de aula, bem como a do aluno. Elas servirão para nós visualizarmos que a partir da postura que o professor assume em sala de aula, ele permite a criação de um ambiente propício para o desenvolvimento de um determinado aluno e pode facilitar, dificultar ou mesmo impedir a aquisição do aprendizado.

Não existe um tipo de professor ideal ou de aluno ideal. O que existe é aquele professor que tem como uma de suas qualidades a intenção de se esforçar e oferecer o melhor de si no intuito de não só transmitir a matéria, mas desenvolver no aluno o gosto pelo aprendizado.

Pensando desta forma, poderíamos conceituar aquilo que se chama de prática pedagógica como sendo um processo teórico-metodológico realizado no e pelo professor e aluno para caminharem em direção à sabedoria de vida.

Já não fazemos mais educação como antes, estamos em uma época em que as pessoas se perceberam que precisam pensar, desenvolver seu senso crítico, mas essas pessoas precisam de espaço, daí eu dou razão quando o professor Stephen Kanitz diz: “... freqüentei vários tipos de sala de aula. A grande maioria seguia o padrão usual de um monte de cadeiras voltadas para um quadro-negro e uma mesa de professor bem imponente, [...]. As aulas eram centradas no professor, o "locus" arquitetônico da sala, e nunca no aluno.”

Educação é um conceito muito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento, unilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais, intelectuais, estéticas – tendo em vista a orientação da atividade humana e sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais.

Devemos ter em mente que o mundo mudou e continua mudando! E muda a uma velocidade que acelera mais e mais. A educação continua sendo o grande desafio para todas as sociedades do mundo moderno. E para atender os desafios há de considerar o que chamam de 04 pilares da educação, ou seja, as quatro aprendizagens fundamentais que são aprender a conhecer, (adquirir os instrumentos da compreensão), aprender afazer, (para poder agir sobre o meio envolvente); aprender a viver junto (a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas); finalmente aprender a ser (via essencial que integra as três precedentes) (DELOR: 89/90).

Para entender a estes quatros pilares da educação serão indispensáveis que todos que estejam envolvidos direta ou indiretamente no processo de educação estejam abertos e tenham sensibilidades para acompanhar e entender as mudanças em andamento na sociedade e tentem mensurar as repercussões que estas possam trazer para um indivíduo como pessoa e membro da sociedade.

Por fim, no tocante a nossa academia, devo sim tecer alguns comentários, pois faço parte dela e para eu participar de algo, tem que ser algo que eu acredite, muitas coisas deve mudar e acredito que deve começar com a postura de alguns “professores”, lembrado que há muito tempo saímos do ensino médio que não devemos ser tratados como tal, não que ele não tenha o seu valor, mas os professores devem ter em mente que vão se deparar com uma diversidade e que a humildade faz parte do processo não somos cobaias de aprendizes apenas estamos tentado aprender, aprender a conhecer, (adquirir os instrumentos da compreensão), aprender afazer, (para poder agir sobre o meio envolvente), dessa forma acredito que partindo daí a coisa fica melhor. Por esse motivo eu concordo com a idéia do Prof. Stephen Kanitz.

Revolucione a sala de aula

"Na vida você terá de ser aprovado pelos colegas e futuros companheiros de trabalho, não pelos seus antigos professores”.

Lourival Alves Direito IV

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

O artigo citado pelo professor Stephen Kanitz,é a pura realideade vivemos em um mundo de inovações, tudo se muda e na maioria das vezes para o melhor desenvolvimento.
Portanto esse novo método de ensino é uma nova forma de aprendizagem, sendo que fica bem mais fácil o aprendizado quando existe a interação de professor e alunos, ambos trocando idéias.

Danila Dantas III período, Direito

Unknown disse...

O artigo citado pelo professor Stephen Kanitz,é a realidade do que acontece com grande parte de professores e alunos, mas vale ressaltar, que vivemos em um mundo de inovações, onde tudo muda e na maioria das vezes para um melhor aprendizado. Quero aqui também agradecer ao professor pela sua dedicação e orientação que vem prestando aos alunos através do blogspot.

III Período de Direito.