domingo, 10 de agosto de 2008

É faculdade, mas parece colégio

Imaturidade emocional e despreparado intelectual dos alunos fazem as universidades se comportarem como escolas

Por CLAUDIA JORDÃO E VERÔNICA MAMBRINI


MÃES A POSTOS Na faculdade, notas, faltas e trabalhos são vigiados pelos pais

Alunos chegam atrasados, conversam durante a aula e colam na prova. Educadores, por sua vez, distribuem advertências, expulsam de classe, ligam para os familiares e agendam reuniões de pais e mestres. Há cinco anos, relações nesse nível, envolvendo professores, estudantes e seus respectivos responsáveis, eram exclusividade do ensino médio. Hoje, no entanto, esse é o tom em muitas faculdades privadas Brasil afora. E não é apenas a falta de preparo emocional que leva o clima de colegial para os corredores da faculdade. Os calouros chegam com déficit de aprendizado e várias instituições têm oferecido disciplinas como português, matemática e informática com conteúdo do ensino médio. Situações como essas mostram que a universidade está deixando de trazer consigo a simbologia de rito de passagem da adolescência para a vida adulta e se transformando numa continuação do colégio.

"Percebemos que os alunos chegam cada vez mais jovens, imaturos e com problemas de formação básica", atesta a professora Vera Lúcia Stivaletti, pró-reitora de graduação da Universidade Metodista de São Paulo. Com a chegada desse "novo jovem", a educadora adaptou a instituição. Desde 2007 ela recebe pais para visitas guiadas ao campus e oferece aulas de português, matemática, informática e biologia. A resposta tem sido positiva. "Quando minha mãe veio para a reunião, meus colegas disseram que eu deveria ficar com vergonha. Mas eu acho legal", confessa Gabriela Schiovan, 17 anos, aluna de psicologia. Sua mãe, Sandra, 47, monitora as notas da filha. "É preciso complementar a faculdade", considera.

Em instituições como a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, a participação paterna é incentivada antes mesmo do vestibular. Há seis anos ela organiza o "ESPM Experience", um dia voltado para o debate de cursos e mercado de trabalho. "Depois que os alunos são aprovados, organizamos reuniões com os pais e professores", diz Alexandre Gracioso, diretor nacional de graduação da ESPM. Lá e na Fundação Educacional Inaciana, em São Bernardo (SP), os pais são bem-vindos inclusive no dia do vestibular. Enquanto os alunos fazem a prova, eles vivenciam uma "inclusão acadêmica", com visita monitorada, palestras sobre o curso, carreira e mercado de trabalho. "Tentamos mostrar que aqui tratamos o aluno como um futuro profissional", diz Rivana Marino, vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias. Mas essa participação tem limites. "Muitos pais ligam para saber de notas, mas acho isso prejudicial para os filhos", diz Gracioso, da ESPM.

Ao mesmo tempo que lidam com a imaturidade emocional, as universidades enfrentam o problema do despreparo intelectual. Grande parte dos alunos de primeiro ano chega ao ensino superior sem condições de aprender as novas disciplinas. O problema atinge principalmente jovens vindos de escolas públicas que vão para faculdades privadas inauguradas na última década. De 1997 a 2003, o ensino superior privado no País viveu um boom. Nesse período, o total de novos alunos cresceu 150% - de 392 mil para 1 milhão. Migraram para essas novas instituições jovens que não pontuavam em universidades públicas ou particulares de tradição. A solução foi criar, em caráter obrigatório e extracurricular, aulas com conteúdo de ensino médio. Na prática, transferiuse para o curso superior o problema da péssima formação do aluno.

A Faculdade Alfacastelo, em São Paulo, abriu as portas em 2000 e há três anos dá aulas de nivelamento, como é chamado esse reforço. Durante o primeiro ano, os calouros chegam 50 minutos antes para aprender gramática, interpretação de texto e matemática. "Vejo problemas básicos, como alunos que não sabem regra de três", diz Celso Britto, diretor institucional. O Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio, também investe no resgate de disciplinas do ensino médio. Segundo Bruno Corrêa, coordenador de vestibular, as aulas, que ocorrem desde o início de 2007, reduziram o índice de trancamento dos cursos. "As desistências atingiam 30% das matrículas do primeiro para o segundo período", conta. O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Ronaldo Mota, reconhece a má qualidade do ensino no País e apóia essas iniciativas. "Sei de casos em que o déficit de ensino foi superado", afirma. Vale lembrar: oferecer aulas de nivelamento (ou adaptação pedagógica) conta pontos para as instituições que as oferecem em avaliações do Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Fonte: Istoé 2023

segunda-feira, 10 de março de 2008

Custo de venda a prazo deve ser informado ao consumidor

Rio - A cobrança de juros em empréstimos, financiamentos e compras a prazo tem que ficar mais clara para o consumidor. A partir de agora, bancos e financeiras estão obrigados a apresentar o CET (Custo Efetivo Total), composto pelos juros e outras taxas, como IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e TAC (Taxa de Abertura de Crédito).

Com essa medida, o consumidor saberá o quanto vai realmente pagar pelo parcelamento, já que, em muitos casos, lojas e financeiras mostram somente os juros, escondendo os outros impostos e tributos embutidos. A regra vale para qualquer tipo de operação que envolva a cobrança de juros, desde a compra parcelada de ovos e outros produtos de Páscoa em supermercados até a aquisição de automóveis, passando por empréstimos à pessoa física.

A exigência da apresentação do CET foi feita pelo Conselho Monetário Nacional em dezembro — comércio e setor financeiro já estão obrigados a seguir a regra. Segundo o vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel de Oliveira, o consumidor que tiver esse direito violado pode fazer denúncia ao Procon.

“O CET vai facilitar a vida do consumidor, que terá maior facilidade em comparar cada condição de pagamento e escolher a mais vantajosa. Com a informação padronizada, a concorrência vai aumentar e as taxas poderão até cair em pelo menos três meses”, ressaltou Miguel de Oliveira.


Setor não cumpre a nova regra


Apesar de a regra do CET já estar em vigor, levantamento da Pro Teste aponta que a determinação não foi cumprida em seu primeiro dia pelos 10 maiores bancos, no Rio e em São Paulo. Os pesquisadores da Pro Teste agiram como clientes interessados na contratação de empréstimo pessoal, no valor de R$ 2 mil, para pagamento em 12 parcelas.




Eles não puderam verificar se os cálculos seriam feitos adequadamente, já que os bancos ainda não estão adotando o CET. A Pro Teste informou que vai notificar o Banco Central pelo descumprimento da resolução.




A advogada Elena Froimtchuk, 31 anos, aprovou a medida. “Conheço pessoas que tiveram problemas em contratos porque os itens não estavam bem explicitados”, afirmou Elena.


Fonte: O Dia